A prática de projeto de arquitetura sofre ao longo dos anos uma série de transformações e interferências relacionadas aos meios culturais, a produção arquitetônica, aos métodos aplicados e as metodologias existentes.
Geralmente, estas transformações são lentos processos de mudança de pensamento daqueles profissionais que atuam na prática projetual e principalmente na docência acadêmica. De fato, para um profissional conceder a si uma mudança de paradigma em relação a seu próprio processo projetual é tarefa bastante perturbadora e desmotivadora. Cabe as universidades, na formação de jovens arquitetos inserirem novas teorias de projeto, métodos e princípios na orientação acadêmica destes novos profissionais.
O processo criativo em sua essência é uma combinação de saberes adquiridos durante a formação do arquiteto e a prática profissional. Porém as reflexões teóricas assumem papel importante nesta formação, tornando as ideias disseminadas nas faculdades de arquitetura uma referência para obtenção da individualidade do processo criativo.
Uma boa solução arquitetônica necessita de ferramentas para sua representação. Um conceito bem elaborado e convincente geralmente obtém bons resultados práticos. Um croqui simples e rápido representa o resultado final com grande facilidade. Porém para que a arquitetura saia do papel e cumpra sua função, se faz necessária uma representação gráfica completa, clara e concisa.
No livro Ensaio sobre o projeto, MARTINEZ, fala claramente sobre a importância do domínio de todas as ferramentas pelo arquiteto, para criar, elaborar e executar um bom projeto de arquitetura. E como a falta de uma ou outra pode comprometer seu próprio trabalho.
Neste ponto relaciono a mudança de paradigma nos processos de projeto com a prática projetual.
Em minha formação acadêmica vivenciei os últimos resquícios dos processos de produção arquitetônica através de representação gráfica a mão livre através de recursos físicos como a tinta nanquim sobre papel vegetal. Presenciei nesse período a árdua, porém derrotada, luta dos professores contra a utilização de ferramentas computacionais para o desenvolvimento de projetos arquitetônicos. Enfim, o conservadorismo desse período tumultuado me fez entender o desespero dos professores ao verem bases conceituais e ideias excelentes desaparecerem em impressões borradas, apagadas, textos minúsculos ou gigantescos e escalas absurdas.
De certa forma, a falta de conhecimento específico dos professores em relação a computação gráfica e a insistência dos alunos em utilizar esses recursos contribuíram para tornar esse processo lento e doloroso, já que as visíveis consequências na produção arquitetônica desse período foram desastrosas.
A partir do avanço da tecnologia Computer Aided Design (CAD), que passou a ser utilizada como uma prancheta eletrônica, é possível afirmar que essa transição da representação gráfica manual para digital está definitivamente concluída. Mesmo aqueles remanescentes e saudosistas limitam-se aos esboços iniciais a grafite e utilizam mão de obra especializada para documentar os projetos digitalmente.
Certamente existiu uma mudança significativa na forma de representar há mais de 3 décadas. Mas definitivamente os processos de projeto permaneceram com seus traços fortes e praticamente inalterados.
Percebe-se um método de produção linear, onde as etapas vão se sobrepondo diretamente ligadas a anterior. Após a definição do anteprojeto ou estudo preliminar, o arquiteto “produz” o projeto arquitetônico e em função desse último são definidos os projetos complementares.
Esse processo exige, ao final da cadeia, uma compatibilização entre os projetos através de “sobreposição”, a fim de evitar erros e problemas na execução da obra. Exatamente como se sobrepunha as folhas de papel vegetal , projeto sobre projeto.
Tornou-se comum ao final desse processo, que o responsável pela criação do objeto arquitetônico não reconheça a sua obra, tamanha a interferência causada ao longo desse processo.
Feita essa análise sobra a prática profissional que é contemporânea e exercida na grande maioria dos escritórios de arquitetura e engenharia, gostaria de entender melhor esses processos advindos desta mudança, citada anteriormente, para conhecer os motivos de uma nova mudança de paradigma que está por vir, e que a manifestação deste interesse, demonstra que já começou.
A tecnologia CAD para arquitetura pouco evoluiu nos últimos anos. Algumas mudanças significativas mas sempre focadas em produtividade. Isto demontra uma certa acomodação de seus usuários, e fatalmente levaria a necessidade de uma nova tecnologia que superasse suas limitações.
O conceito de Building Information Modeling (BIM) surgiu da necessidade de tornar os projetos mais completos, agregando informações mais precisas ao projeto de arquitetura. Quando antes se representava uma parede por duas linhas e uma legenda, com o BIM tornou-se possível modelar um objeto tridimensional com informações completas sobre a parede, como tipo de estrutura, revestimento, coeficientes térmicos e acústicos, além de demonstrar as instalações presentes em sua estrutura.
Baseado neste simples exemplo e comparando o mesmo a todos os outros elementos arquitetônicos presentes nas edificações, percebo que haverá uma mudança na prática projetual, uma vez que o projeto arquitetônico deixará de ser um conjunto de informações individuais e desconexas, passando a ser um único documento tridimensional, em que todas as informações estarão presentes em qualquer etapa do ciclo do projeto.